domingo, 8 de julho de 2007

A ricota quer saber de você, apreciador dos melhores queijos, o que tira você da cama toda manhã? Não vale responder: ah, é o despertador! Ou argumentar a necessidade do cottage em que se transformou a sua vida, sempre saudável e na medida para resistir por um longo tempo, embora você venha reconhecendo nas noites uma falta de sal. Não é sobre isso a degustação do dia. Mas sobre o degustar. Você é daqueles que pensa ao acordar: droga, bem que eu poderia estar indo à praia, um sol destes e eu tenho que trabalhar. Ou você, queijo raro, pula da sua caminha já imaginando algum detalhe inconcluso naquilo a que você se dedicava no dia anterior. Pode ser também que lhe venha à mente a necessidade de aprimorar seus conhecimentos para tornar seu queijo um legítimo camembert. Lógico que nem tudo é tão preto no branco, seria ingenuidade acreditar que nós pudéssemos ter essa consciência clara e distinta a cada amanhecer. Mas, veja bem, se você é um músico, por exemplo - como meu namorado astro do rock -, você se imagina tocanddo, lá em cima no palco, o maior sucesso, o povo se esmagando para tentar tocar em um pelinho seu, todo mundo cantando sua música. E quando acaba o show então, nossa os camarins!, aí nem se fala! Pois é, se você imagina tudo isso - que tem lá seu espaço verdade e seu lugar mito - como acha que vai chegar lá? Como pensa que seus ídolos chegaram? Ah, é só escrever qualquer coisa, "botar o que vai no coração" - o frase besta que se ouve por aí - ou então, tocar o que o povo quer ouvir e tudo bem, sucesso garantido. Já estou até visualizando o Bono Vox falando, "cara vamos colocar aí algo sobre o domingo sangrento, fala qualquer coisa do meio ambiente, ah, não pode deixar de fora também o pé na bunda que o Adam levou daquela lá, vocês lembram?", está bem então, agora faz todo sentido! Parece ? E aqui não se estamos falando só de música não, embora seja mais fácil argumentar sempre com relação a alguma arte, o assunto diz respeito à medicina, ao direito, à filosofia, à jardinagem, ao lixeiro, a ser mãe, e por aí vai. Porque se você só consegue pensar nesta parte, nos louros, na curtição, no dinheiro e põe de lado as horas de dedicação, a rotina, a superação desta mesma rotina, o pensar sobre o seu fazer, os aborrecimentos, os contratempos, compromissos, enfim, se você não for capaz de se imaginar lidando com o lado negro da força daquilo que tomou para si, aí, decididamente, tem algo fedendo no seu queijo. Se você é um músico que prefere a praia no domingo ao ensaio; se você é a mãe (e o pai) que deixa o filho por aí, terceirizando a formação dele para as babás, professores e colegas; se você é o médico que não está disposto a prestar atenção à fala de seu paciente; ou, quem sabe, se você é o funcionário daquele escritório esperando ansioso todo dia pelas 5 horas da tarde e, mais ansioso ainda pelo fim de semana, então me responda, queijo querido, porque você se levanta pela manhã? Ah, já sei, tinha esquecido, é o despertador! Então tudo bem. Ok, ok, você adora cottage e resolveu que toda sua existência seria transformada na tal iguaria. Então tudo bem. É que a ricota, às vezes, fica confusa com tanta variedade de queijo, melhor, com as preferências e escolhas, e ela gostaria de compreender como as tais escolhas se dão. Culpa do Platão, tudo culpa dele. Sabe como é, a ricota resolveu ler este filósofo velho, esssa coisa antiga e ultrapassada e só podia dar nisto! É que o Platão a certa altura em um texto de sua autoria resolve expulsar todos os poetas de uma cidade que ele está criando na imaginação, mas esta leitora aqui está desconfiada, e muito seriamente, - a despeito de boa parte da tradição na fabricação de queijos - de que o filósofo só baniu de sua cidade os poetas que preferiram a praia - afinal você já viram o mar da Grécia? Covardia não? - e não se preocuparam muito em descobrir porque eles levantavam de suas camas pela manhã. Ah, ricota, você também!, só podia ser por causa da praia, já viu aquele mar!? Não vai me dizer que eles deveriam se levantar todo dia só para descobrir o que é ser poeta! Só você mesma. E quem é esse maluco, esse tal de Platão? Sei não, ele está virando sua cabeça ricota! Que conversinha...


Se é assim, então tudo bem...


Por falar nisso, algum leitor disposto a dar uma caroninha para a ricota pegar uma cor no domingão?

Nenhum comentário: